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Às 23h

Livros na Minha Cabeceira

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Livros na Minha Cabeceira

Opinião: O Processo Violeta

Sara, 11.08.20

Autor: Inês Pedrosa

Editora: Porto Editora

Ano: 2019 (1ª ed.)

N.º Pág.: 230

ISBN: 978-972-0-03142-6

 

Sinopse:

No Portugal festivo e individualista do fim da década de 80, Violeta, uma professora de 32 anos, engravida de Ildo, um aluno de 14 anos, filho de uma mãe solteira cabo-verdiana. O Insubmisso, novo jornal de uma elite em ascensão, perseguirá a história e descobrirá que o pai de Ildo é um cavaleiro tauromáquico aristocrata.

O escândalo do chamado processo Violeta contrastará com o silêncio absoluto através do qual Ana Lúcia, amiga de Violeta, oculta a sua violação por um outro aluno de 14 anos da mesma escola.

Este romance apaixonante interroga, com inteligência, imaginação e humor, os interditos de uma sociedade que se diz livre e despida de preconceitos. O processo Violeta é, afinal, o de um país de hábitos clandestinos, esconsos, sacrificiais e crepusculares.

 

Opinião:

Eu adoro a escrita da Inês Pedrosa e talvez, por isso, tenha sido tão dificil encontrar as palavras certas para explicar a pontuação que dei a este livro. Até hoje, esta foi a opinião literária que mais me custou escrever.

A sinopse fala-nos de uma relação entre Violeta, de 32 anos e Ildo de 14 anos e a cobertura deste caso pelo jornal "Insubmisso". E, ainda, do silêncio por parte de outra professora após violação por outro aluno de 14 anos da mesma escola. Pensei então, ter nas mãos, um romance que se debruçaria, principalmente, sobre estas duas situações.


Mas encontrei algo mais parecido com um ensaio...

"Ao longo de toda a História do mundo ocidental, praticamente até à entrada do século XX, jovens e adolescentes, por vezes até meninas impúberes, foram vendidas em casamento a velhos varões que, em muitos casos, nem sequer haviam visto."

Se hoje julgamos uma relação amorosa entre uma mulher de 34 anos e um miúdo de 14 anos, noutros tempos houve várias relações, até por escolha própria, como a do escritor Edgar Allan Poe (26 anos) e Virginia (13 anos). Onde deverá então ser traçada a fronteira?

Estará o aluno a ser vítima de violação por parte de Violeta? Inês Pedrosa fala ainda dos conceitos de infância e adolescência, de como o cérebro se desenvolve e da aceleração do amadurecimento sexual, dos jovens de hoje. São diversos os momentos em que a autora nos faz refletir sobre este assunto - de que gostei bastante.

Mas, ao longo do romance foi dado grande foco ao funcionamento de um jornal, nos anos 80, pouco depois do fim da ditadura em Portugal. Esta foi a primeira coisa que me chateou. Sabia que O Processo Violeta seria coberto por um jornal e até imaginei que o narrador fosse o jornalista de investigação mas a autora debruça-se muito mais sobre este mundo jornalístico do que aquilo que eu esperava - talvez por ingenuidade da minha parte, uma vez que é neste meio que trabalha.

Mas, se soubesse que o livro trataria extensivamente este tema, não teria pegado nele, saberia logo que não me interessaria. Assim, acabei por ser "forçada" a ler temas que não me entusiasmam para descobrir como o romance entre Violeta e Ildo terminaria...

 

Outra coisa que me chateou e me chateia imenso num livro é um elevado número de personagens. Não acho que um bom romance necessite de imensos personagens, até pode dificultar a leitura, tornando-a menos fluída. Este é um livro relativamente pequeno (230 páginas) e, após alguns capítulos, tive de recomeçar a leitura, com uma folha de papel ao lado para apontar nomes, ligações entre personagens ou suas funções no jornal. Até à página 50, encontram-se cerca de 20 personagens... seriam mesmo necessárias tantas?

Por fim, temos ainda o pai de Ildo, cavaleiro tauromáquico, pelo que somos também transportados, através da relação que Ildo desenvolverá com o pai, para esse mundo que nada me fascina.

 

Pareceu-me, resumindo, uma escrita um pouco forçada, senti uma desorganização geral de ideias por parte da escritora, dá quase a sensação de que o texto não foi revisto. Já li outras obras da Inês Pedrosa, que adorei e nunca tinha ficado com esta sensação tão estranha. Talvez houvesse aqui material para dois livros independentes?

Teria preferido que houvesse um maior foco no romance entre Violeta e Ildo e mais espaço para a história de Ana Lúcia, que acabou por ser esquecida ao longo do livro. Fala-se brevemente do seu silêncio por temer represálias e até de um outro caso de violência na escola, também abafado:

"O problema das vítimas é sempre esse: o lastro da vergonha, o medo das represálias. Não reagem, o que as torna duplamente vítimas."

 

Se pudesse retirar muitos dos capítulos associados aos dramas jornalísticos e ainda sobre o contexto político, a minha pontuação seria elevada. Inês Pedrosa escreve tão bem, talvez por isso as minhas expetativas sejam tão elevadas quando pego num livro dela. Deste não posso dizer que gostei...

 

Pontuação: 4/10

Opinião - A Cabana

Sara, 01.07.20

Autor: Wm. Paul Young

Editora: Porto Editora

Ano de Edição: 2009 (1ª)

Título Original: The Shack

Tradução: Fernando Dias Antunes

ISBN: 978-972-0-04178-4

Nº Pág.: 246

 

Sinopse:

"As férias de Mackenzie Allen Philip com a família na floresta do estado de Oregon tornaram-se num pesadelo. Missy, a filha mais nova, foi raptada e, de acordo com as provas encontradas numa cabana abandonada, brutalmente assassinada.

Quatro anos mais tarde, Mack, mergulhado numa depressão da qual nunca recuperou, recebe um bilhete, aparentemente escrito por Deus, convidando-o a voltar à malograda cabana.

Ainda que confuso, Mack decide regressar à montanha e reviver todo aquele pesadelo. O que ele vai encontrar naquela cabana mudará o seu mundo para sempre."

 

Opinião:

Este livro foi-me oferecido quando já era bestseller , com indicação na capa que tinha vendido 7 milhões nos EUA. Ora, eu com livros muito badalados, fico sempre de pé atrás. Na altura, ainda li as primeiras páginas - o prefácio e pouco mais. Não cheguei sequer ao rapto de Missy porque a escrita não me atraiu nada.

Há cerca de um mês, numa conversa de amigas, falaram-me do filme. Eu disse que nem o livro tinha conseguido ler mas insistiram que tinha de ver o filme. Fiquei curiosa, por que razão faziam tanta questão se era uma adaptação de um livro que eu nem sequer tinha gostado. Vi-o na noite desse dia. E deixo-vos aqui o trailer:

O filme conta, mais uma vez, com uma atriz que eu adoro - Octavia Spencer - e aproveito já para dizer que a adaptação do livro é tão, mas tão melhor que o livro! Tanto a transmitir as emoções, como a mensagem fundamental.

Mas, após ver o filme, tive de pegar no livro para descobrir o que mais iria acrescentar.

 

O livro divide-se essencialmente em duas partes: uma primeira, policial, que acrescenta alguns pormenores ao filme mas não deixa de ser muito pequena e pouco profunda, se compararmos com policiais propriamente ditos. Comparativamente, o filme com a ajuda da música, da luz, dos próprios atores, é mais emocionante.

 

No livro, a segunda parte, espiritual, tenta responder a todas as dúvidas que surgem sobre a existência de Deus, quando perdemos alguém de forma atroz. E nisso, o filme consegue fazê-lo de uma forma mais simples.

 

No livro, a segunda parte torna-se demasiado confusa...

 

 

Mesmo concordando com alguns pontos, o texto relembra-me, por vezes, um sermão. A história volta a tornar-se interessante nas últimas vinte páginas. Mas 20 páginas dificilmente salvam um livro com 250... Resumidamente, foi uma leitura confusa e, por vezes, sofrida.

 

Vejam o filme e, desta vez, fujam do livro...

 

Pontuação: 3/10

 

 

O Amor é Fodido

Sara, 13.09.16

 

Autor: Miguel Esteves Cardoso

Editora: Porto Editora

ISBN: 978-972-0-04599-7

N.º Páginas: 184

 

As lágrimas das raparigas refrescam-me. Levantam-me o moral. Às vezes lambo-a dos cantos dos olhos. São pequenos coquetéis sem álcool, inteiramente naturais. Dizer: "Não chores" funciona sempre, porque só mencionar o verbo "chorar" emociona-as e liberta-as, dando-lhes carta-branca para chorar ainda mais. Só intervenho com piadas e palavras de esperança e de amor quando elas vão longe de mais e começam, por exemplo, a pingar do nariz.

 

Opinião:

 

Não sou de modas e, por isso, só agora me debrucei sobre um livro de Miguel Esteves Cardoso. O título desta obra esteve nas bocas do mundo e o escritor foi considerado irreverente. Quando peguei no livro, tinha a certeza ter encontrado um tesouro. Deparei-me com uma primeira página que prometia uma obra inesquecível:

Quanto mais vou sabendo de ti, mais gostaria que ainda estivesses viva. Só dois ou três minutos: o suficiente para te matar. Merecias uma morte mais violenta (…)

Mas, capítulo após capítulo, o gosto pela leitura foi diminuindo drasticamente. Tornou-se numa desilusão. O romance foi ficando sem estrutura e parecia ter nas mãos um esboço apenas, como se estivesse a ler um caderno de pensamentos do autor. Além da falta de estrutura, a própria escrita alterna bastante. Existem vários capítulos em que a pontuação é absurda – parece que estou a ler uns escritos de um ucraniano que está a aprender a língua portuguesa.

 

A linguagem é degradante. Engraçado como o facto de ter sido escrita por Miguel Esteves Cardoso é vista como irreverente mas se lêssemos ou ouvíssemos – e ouvimos! - as mesmas frases por um individuo incógnito, seria considerado racista, mal-educado, sem formação, etc. Por ser Miguel Esteves Cardoso, ganha um estatuto diferente?? Parece-me hipócrita da sociedade...

 

Apesar de tudo, é uma obra que conquistou muitos leitores… é um daqueles casos que não deixa ninguém indiferente, ou se ama ou se odeia. Se foi escrito para chocar, o objetivo foi, sem dúvida, alcançado...