Opinião: Estorvo
Autor: Chico Buarque
Editora: D. Quixote (Leya)
Ano de Edição: 2010
Nº Pág.: 155
Colecção: Autores Lusófonos
Sinopse:
O nosso narrador dorme quando a campainha toca e lhe interrompe o sono. Espreita pelo olho mágico e não reconhece quem vê: um homem de fato e gravata procura por si. A campainha insiste, o olho mágico distorce o rosto do outro lado da porta. E isto é o que basta para o narrador fugir de casa e cair numa espiral obsessiva, uma viagem de regresso a lugares esquecidos, de reencontros e recordações estranhamente familiares, uma odisseia que acaba por ser um exílio dentro de si mesmo. Estorvo, primeiro romance de Chico Buarque, é um texto notável, que se mantém constantemente no limite entre o sonho e a vigília, entre a realidade e a alucinação. E o olho mágico que separa os dois homens talvez seja a melhor metáfora da visão deformada com que o narrador, e o leitor com ele, olha o mundo que lhe é tão familiar e ao mesmo tempo tão distante. E talvez uma metáfora do mundo em que vivemos, em que é tão fácil sentirmo-nos sós.
Opinião:
Estorvo foi vencedor do Prémio Jabuti em 1992 na categoria Melhor Romance mas... não me prendeu. Estranhei um pouco a construção frásica e não conhecia várias expressões brasileiras, pelo que me perdi um pouco ao longo da leitura. Além disso, também me senti confusa logo no início da história...
Tudo começa com o protagonista a acordar com a campainha, a espreitar pelo olho mágico, sem conhecer quem lhe queria falar. Aguarda ansiosamente para poder fugir, enquanto a visita insiste e, nesse instante, inicia-se uma corrente impetuosa de pensamentos, a par da sua fuga, que já não o liberta mais.
E, começa a surgir-me, constantemente, na minha memória, a obra O Estrangeiro de Albert Camus, no qual o seu passado também o aprisiona, onde há uma angústia constante que o persegue e da qual não se consegue libertar. Nesta referência que tenho, a personagem principal, o enredo e a profundidade prenderam-me à leitura, o que não aconteceu com Estorvo. À medida que ia avançando e conhecendo melhor a personagem principal, a empatia inicial que sentia, foi-se desvanescendo...
Sou fã do músico Chico Buarque, como compositor, como letrista e cantor. Então, apesar de não ter conseguido apreciar este romance, tenho vontade de o reler mais tarde - nunca lemos os livros da mesma forma, tocam-nos sempre de forma diferente - ou pegar noutro romance dele, como Leite Derramado.
Pontuação: 4/10